Jeremias
(Yirmeyahu em Hebraico, ou Hieremias em Latim), é um
dos nove personagens chamados "Profetas" encontrados na Tanaque (Bíblia
Hebraica) que corresponde ao Antigo
Testamento nas Bíblias Cristãs. O significado do seu nome é incerto,
existindo várias interpretações: "Javé (Deus)
exalta/eleva", "Javé é sublime" ou "Javé abre/faz
nascer"[1], sendo
mais usada a leitura "Javé exalta/eleva"[2].
O nome do
seu pai era Hilquias(ou Helcias), um dos sacerdotes de Anatote, no
território de Benjamim, a cinco quilômetros a
nordeste do Monte do Templo em Jerusalém.[3]
Embora de
família sacerdotal, está ligado às tradições proféticas do Norte,
principalmente a Oseias, e não às tradições do sacerdócio e da corte de Jerusalém. Como Miqueias, ele
pertence ao mundo camponês. De maneira crítica, ele traz consigo a visão dos
camponeses sobre a situação do país.
História
O profeta
Jeremias (na frente) feito em pedra
sabão por Aleijadinho no adro do Santuário do Bom Jesus de
Matosinhos em Congonhas do Campo
De acordo
com alguns autores, o pai de Jeremias, Hilquias, não era Hilquias, da
linhagem de Eleazar,[5] provavelmente era
da linhagem de Itamar[6] e
possivelmente descendeu de Abiatar, chefe
dos levitas em Jerusalém na época do rei David, que foi
desterrado para Anatote por Salomão. O autor
árabe Abul Faraj porém, defendia que Jeremias fosse filho do sumo sacerdote
Hilquias.
Jeremias
era pesquisador e historiador, além de profeta. Acredita-se que tenha sido ele
o autor do livro que leva seu nome e possivelmente os dois livros de Reis
(tenha escrito adicionando-lhe relativos dados por Natã e Gade ( I Crônicas
29:29) e outros escritores. É a história dos reis de Judá e Israel, desde Davi
até Acabe e Jeosafá, num período de 118 a 125 anos), abrangendo a história de
ambos os reinos (Judá e Israel) desde o ponto em que os livros de Samuel a
deixaram (isto é, na última parte do reinado de Davi sobre todo o Israel), até
o fim de ambos os reinos, e após, a queda de Jerusalém, teria escrito o Livro das Lamentações.
Os
relatos biográficos em terceira pessoa que encontramos no Livro de
Jeremias, que são atribuídos a Baruc, não se
encontram em ordem cronológica, entretanto, por meio da seguinte sequência de
trechos: 19:1-20:6; 26; 45; 28-29; 51:59-64; 34:8-22; 37-44, pode-se fazer uma
leitura destes relatos na ordem cronológica[9]
A
atividade profética de Jeremias se iniciou entre os anos de 626 ou 627 AC[1] (1:2;
25:3), quando ele ainda era jovem (1:6), razão pela qual teria demonstrado
receio ao assumir tal tarefa[10], e
prosseguiu até 586 AC, podendo ser dividida em quatro períodos.
Com
apenas oito anos de idade, Josias foi nomeado rei pelo "povo da terra", expressão que indica a
camada rural da sociedade[4]. No
início deste reinado, Jeremias proclamou um julgamento contra Israel e Judá por
causa de sua infidelidade a Iahweh e sua adesão a outros deuses (idolatria),
especialmente os deuses que garantiam a fertilidade da natureza, os chamados baalins.
No âmbito
internacional, a situação política está mudando rapidamente: a Assíria, grande
potência da época, se enfraquece cada vez mais. Josias, já
maior de idade, aproveita esse enfraquecimento para realizar ampla reforma e
procura tomar o território que antes era do Reino de
Israel Setentrional, e que pertencia à Assíria desde a queda de Samaria em 722
AC..
Josias deixa de
pagar os impostos cobrados pelos dominadores e promove a reforma religiosa (cf.
2Rs 22,1-23,27), na qual tenta eliminar todos os ídolos do país e estabelecer
novo relacionamento social centrado na Lei[4].
Estranhamente Jeremias não faz nenhuma alusão a esta reforma social e religiosa.
Foi um
período de prosperidade e otimismo, por isso Jeremias emite bom conceito sobre
Josias (Jr 22,15-16).
Foram
escritos neste período: 2:1-4:4 e 30:1-31:37
Com a
decadência da Assíria (queda de Nínive em 612
AC, outros povos entram no cenário: citas, medos, babilônios e também
os egípcios que tentam ressurgir depois de um período
decadente. Com isso, a Palestina volta a ser palco de disputas
políticas e militares. Josias morre em Megido, em 609 AC (2Rs 23:29), quando tenta impedir a incursão do Faraó Neco, que
procura deter o avanço da Babilônia.
Neco depõe Joacaz, que
sucedera Josias, e
coloca no trono de Judá o
despótico Joaquim. O povo detestava Joaquim, e
Jeremias critica violentamente esse rei (Jr 22,13-19). É dessa época o famoso
Discurso sobre o Templo (Jr 7,1-15; cf. cap. 26), que quase custou a vida do
profeta.
O
Discurso contra o Templo, que foi conservado em duas versões: 7,1-15 e 26,1-24.
O primeiro destaca o conteúdo, o segundo as circunstâncias do discurso. Ocorreu
entre setembro de 609 e abril de 608 AC, quando Jeremias colocou-se no pátio do
Templo e denuncia a confiança da população judaíta no Templo de Iahweh como
falsa e previu a destruição do santuário, tal qual outrora acontecera com Siló.
Na
opinião dos sacerdotes do Templo, Jeremias cometera uma dupla blasfêmia: falara
em nome de Javé e falara contra a casa de Javé. Jeremias confirmou suas
palavras perante o tribunal e só não morreu porque alguém se lembrou do profeta
Miqueias, que, um
século antes, pregara destino parecido para o Templo e para a cidade e nada
sofrera.
No começo
de seu governo, Joaquim preocupa-se em construir um
novo palácio, exatamente no momento em que a crise econômica se agravava, pois Judá estava
obrigado a pagar tributos ao Egito.
Jeremias denuncia o governo de Joaquim como ganancioso, assassino e violento
(22:13-19), pois não cumpre sua função real de exercer a justiça e o direito e
de proteger os mais fracos, e vai dizer ao rei que ele, quando morrer, nem
merece ser sepultado, mas como um jumento deverá ser jogado para fora das
muralhas de Jerusalém, pois, ao contrário de seu pai, Joaquim "não
conhece Iahweh".
A Babilônia surge
como grande potência, sob o reinado de Nabucodonosor.
Jeremias adverte os israelitas que os babilônios, em breve, invadirão o país
(4:5-6:30; 5:15-17; 8:13-17). Possivelmente por volta de 605 AC, quando Nabucodonosor venceu o
Faraó Neco II e
ameaçou Judá, o profeta foi ao pátio do Templo e anunciou a destruição de Jerusalém
(19:14-20,6), e, por isso, foi preso por Fassur, chefe da guarda do Templo,
surrado e colocado no tronco por uma noite. Depois disso, foi-lhe proibida
(36,5), a entrada no Templo.
Assim
mesmo, Jeremias continua denunciando o povo que se esqueceu de Deus, por
falsear o culto, pela falsa segurança, pelas idolatrias e pelas injustiças
sociais. E aponta os principais responsáveis: são as pessoas importantes que
detêm o poder em Jerusalém (rei, ministros, falsos profetas, sacerdotes),
para isso convoca o escriba Baruc e dita-lhe as Profecias de julgamento contra a nação (36:1-32), no
quarto ano do governo de Joaquim, em 605 AC.
Em
dezembro de 604 AC Jeremias manda Baruc ler o
livro, em um momento em que Nabucodonosor atacava
a cidade filistéia de Ascalão, vizinha
de Judá, é o momento em que o profeta alerta: O "inimigo do norte"
está às portas, ou a conversão ou a destruição.
Joaquim mandou queimar o escrito e
prender Jeremias e Baruc (36:21-26), que se esconderam e não foram achados. Posteriormente,
Jeremias manda que Baruc escrever tudo de novo e ainda acrescenta ao livro
outras palavras (36,27-32).
Jeremias
também luta para desmascarar os falsos profetas (14:13-16; 23:13-40) que,
segundo o profeta: falam em seu próprio interesse, fortalecem as mãos dos
perversos, para que ninguém se converta de sua maldade, seduzem o povo com suas
mentiras e seus enganos, roubando um do outro a palavra de Iahweh.
Jeremias
estava com a razão, e sua visão realista se confirmou: em 598 AC, o exército babilônio estava
às portas de Jerusalém. Nessa época, o rei Joaquim morreu, provavelmente
assassinado. Seu filho e substituto Jeconias, não
teve tempo para nada: após três meses Jerusalém era invadida. Então o profeta,
juntamente com parte da elite judaica, foi levado para o Exílio na Babilônia em 597
AC. Sedecias, tio de
Jeconias, foi instalado por Nabucodonosor, para
reinar em Jerusalém.
Jeremias
apregoara que este castigo seria decorrente ruptura da aliança. Em Judá,
Jeremias só via rebeldia contra Iahweh, levando o povo a maldades e crimes sem
conta. Não havia o mínimo "conhecimento de Deus", que só é possível
através da prática do direito, da justiça, da solidariedade. Os poderosos
tramam sistematicamente contra o povo, todos buscam desesperadamente a riqueza
e não há paz. A mentira domina, desde o ensinamento dos profetas à lei dos
sacerdotes, levando o país ao caos. Todos se tornam inimigos de todos. Impera a
idolatria. O fim será trágico, segundo os capítulos 8 e 9 de Jeremias.
Jeremias
constata a ausência do direito e da verdade entre as pessoas comuns (5:1), mas
maior corrupção encontra entre os grandes e poderosos, que não agem mal por
ignorância, senão por determinação consciente e persistente (5:4-5). Quanto
mais a crise nacional se aprofunda, mais os líderes se recusam a encontrar
soluções. Só procuram satisfazer seus interesses imediatos e deixam o país
afundar: "Eles cuidam da ferida do meu povo superficialmente, dizendo:
'Paz! Paz!', quando não há paz", (6:14; 8:11).
Em
5:26-28 são descritos os poderosos e suas armadilhas para apanhar o povo e
escravizá-lo impunemente.
Zedequias assume o trono
com 21 anos de idade, para dirigir um Judá
arruinado, com várias cidades destruídas e uma economia desorganizada, se
submete aos babilônios e se mostra indeciso. Nesse momento surge uma
disputa para determinar a identidade do Povo de Deus entre aqueles que foram
para o Exílio na Babilônia e
aqueles que ficaram em Judá.
Jeremias
se nega a participar de uma visão simplista (cap. 24) e coloca o assunto dentro
da política realista: Zedequias e a corte de Jerusalém são
incapazes de salvar o povo do desastre. Por isso os deportados ainda são os que
podem trazer esperança, pois estão aprendendo uma dura lição. Essa idéia leva
Jeremias novamente para a prisão[4].
Pressionado
por seus oficiais, Zedequias tenta armar uma revolta contra a Babilônia, que,
fracassa, conforme previsto por Jeremias. Jerusalém é
sitiada pelos babilônios, nesse momento, Jeremias também vê nos camponeses uma
luz salvadora (32,15). Em 587 AC ocorre a segunda deportação.
Em 586
AC, Nabucodonosor resolve destruir Jerusalém
totalmente: incendeia o Templo, o palácio, as casas e derruba as muralhas. Mas
permite que Jeremias fique no país, então, o profeta vai viver com Godolias (ou em
outras traduções, Gedalias), novo governador da Judeia.
Nesse
mesmo ano, Godolias é assassinado por um grupo anti-babilônico,
liderado por um descendente da casa real de Judá, Ismael, e o profeta se vê
forçado a fugir para o Egito,
obrigado por Joanã (um dos comandantes do exército de Judá). Esse grupo passa a
residir na cidade de Tafnes, cidade situada a leste do Delta do
Nilo, onde passa a repreender a idolatria que seus conterrâneos ali
praticavam (40,7-44,30).
Segundo o
apócrifo Vida dos Profetas, escrito
por um judeu da Palestina no séc. I DC Jeremias foi
apedrejado e morto por seus conterrâneos quando residia no Egito.
Balanço
Pode-se
dizer que a missão de Jeremias fracassou em querer que seu povo retornasse à
genuína aliança com Deus. Ele se tornou uma espécie de Moisés
fracassado, que viu seu povo perder suas instituições e a própria terra. Se
apresenta como um grande solitário (15:17), incompreendido e perseguido até
pelos membros de sua família (12:6; 20:10; 16:5-9), nunca chegou a ser pai
(16:1-4), foi arrastado contra a sua vontade para o Egito, nenhum
vestígio restará de sua tumba.
No
entanto, sua confiança no Deus que é sempre fiel lhe deu a capacidade de
mostrar, ao povo e a nós, que esse mesmo Deus manterá seu relacionamento conosco,
sem precisar de instituições mediadoras (31,31-34). Ao colocar em primeiro
plano os valores espirituais, destacando o relacionamento íntimo que a alma
deve ter com Deus, ele antecipou elementos da Nova Aliança; e sua vida de
sofrimentos a serviço de Deus, pode ter inspirado Isaías na construção da
Imagem do Servo (Isaías 53).
Conclusão
Jeremias
foi um crítico da conduta do seu povo e com os julgamentos que este sofreu,
mediante uma visão de que Israel era a nação de Deus, vinculada a Ele por meio
de um pacto e sujeita à sua Lei, o que eles violavam claramente naqueles dias
praticando a idolatria, desrespeitando o descanso no dia do sábado e não
libertando os escravos no Ano do Jubileu.
As
denúncias de Jeremias reivindicavam a atenção dos príncipes e do povo, para que
fossem responsáveis pela Lei, a qual violavam constantemente. Suas críticas
eram feitas em discursos acalorados em plena praça pública. Seus principais
alvos eram os sacerdotes, profetas, governantes e todos aqueles que seguiam o
legalismo do "proceder popular".
Todavia,
ele reconhecia que sua comissão era também de 'construir e plantar' (Jr 1:10).
Chorou diante da calamidade que sobreviria a Jerusalém (Jr 8:21, 22; 9:1).
O livro
de Lamentações constitui evidência do seu amor e da sua preocupação com o povo
de Jeová.
Apesar das
atitudes para com ele, Jeremias suplicou ao Rei
Zedequias, o rei vassalo, para que continuasse a viver(Jr 38:4, 5, 19-23)
Segundo
os relatos em seu livro, Jeremias não se julgava justo aos seus próprios olhos,
mas incluía a si mesmo ao admitir a iniquidade daquela nação (Jr 14:20, 21).
Depois de liberto por Nebuzaradã, hesitou
em abandonar aqueles que estavam sendo levados para o cativeiro babilônico, talvez
achando que devia compartilhar a sorte deles, ou desejando continuar servindo
aos interesses espirituais deles (Jr 40:5).
Por
vezes, em sua longa carreira, Jeremias ficou desanimado e necessitou a
confirmação do apoio de Jeová, mas, mesmo em adversidade, não deixou de invocar
a Jeová, pedindo-lhe ajuda. - Jr 20:7-13.
Encontrou
bons companheiros, a saber, os recabitas, Ebede-Meleque e Baruque. Por meio
destes amigos, foi ajudado e livrou-se da morte.
Autoria
de Lamentações
A
atribuição da autoria do Livro das Lamentações à Jeremias é
questionada, pois Jeremias, tal como é conhecido por suas profecias autênticas,
não poderia ter dito que a inspiração profética tinha se esgotado (2:9), nem
louvar Sedecias (4:20 x Jr 24:8), nem esperar auxílio do Egito (4:17 x
Jr 37:5-7), nem apoiar a doutrina da dívida pelos pecados dos pais (5:7 x Jr
31:29-30; 5:6 x Jr 2:18)[13] além
disso seu gênio espontâneo é incompatível com o estilo erudito dos poemas que
estão no Livro das Lamentações[14], havendo
quem sustente que foram escritas por adversários de Jeremias.
Profecias
Jeremias
encenou para Jerusalém vários pequenos dramas como símbolos da condição dela e
da calamidade que lhe sobreviria. Entre eles:
A visita
à casa do oleiro (Jr 18:1-11) e o incidente com o cinto estragado. (Jr 13:1-11)
Ordenou-se a Jeremias que não se casasse; isto servia de aviso das "mortes
por enfermidades", das crianças que nascessem naqueles últimos dias de
Jerusalém. (Jr 16:1-4) Ele quebrou uma botija diante dos anciãos de Jerusalém,
qual símbolo do impendente destroçamento da cidade. (Jr 19:1, 2, 10, 11) Comprou
de volta um campo de Hanamel, filho de seu tio paterno, como figura da
restauração que viria depois do exílio de 70 anos, quando se comprariam
novamente campos em Judá. (Jr 32:8-15, 44) Lá em Tafnes, no Egito, ele ocultou
grandes pedras no terraço de tijolos da casa de Faraó, profetizando que Nabucodonosor fixaria
seu trono sobre aquele exato ponto. - Jr 43:8-10.
Relação com outras figuras bíblicas
O profeta
Daniel com base
no estudo das palavras de Jeremias a respeito do exílio de 70 anos, pôde
fortalecer e encorajar os judeus a respeito da proximidade da sua libertação.
(Dn 9:1, 2; Je 29:10) Esdras trouxe à atenção o cumprimento das palavras dele. (Ed 1:1; veja também
2 Cr 36:20, 21.)
O apóstolo Mateus apontou
para o cumprimento de uma das profecias de Jeremias nos dias em que Jesus era
criancinha. (Mt 2:17, 18; Jr 31:15)
O autor
de Hebreus mencionou os profetas, entre os quais se achava Jeremias, cujos
escritos citou, em Hebreus 8:8-12. (Jr 31:31-34) A respeito destes homens, o
mesmo escritor disse que "o mundo não era digno deles", e que
'receberam testemunho por intermédio de sua fé'. - Hb 11:32, 38, 39
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jeremias
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